Sinto-me desencorajado, de antemão, antes mesmo de começar a escrever sobre o tópico que se segue. Porque sinto que, quem me ler, ou já concorda comigo, ou tem uma visão e um entendimento do mundo de tal forma diferentes dos meus que o diálogo se torna impossível. Em qualquer dos casos, o post é, como refiro no título, totalmente inútil.
O caso é que foi lançado no mercado, há já imenso tempo, embora eu só recentemente tenha ouvido uma descrição do artigo e do seu modo de funcionamento, um jogo chamado "Guitar-Hero". Provavelmente, o leitor já conhecerá o jogo, mas, para quem for, como eu, marcado por um signo de anacronismos trágicos, farei uma descrição breve do jogo, ou, aliás, da série de jogos. Há um controlador em forma de guitarra, com alguns botões coloridos, e uma série de cores que o jogador vê desfilarem em frente aos olhos enquanto uma música progride. O objectivo é pressionar os botões de forma a coincidirem com as cores apresentadas, simulando assim a execução da música. Se houver alguma destreza no manejamento dos botões, acumulam-se pontos e uma platéia virtual mantém-se entusiasmada. Parece-me escusada qualquer explicação das razões pelas quais isto me parece tão estúpido. Qualquer pessoa que não entenda porque motivo este jogo é uma imbecilidade, e tenha realmente necessidade que lhes sejam apresentados argumentos detalhados, poderá enviar um comentário, e eu terei todo o gosto em dar-lhe pessoalmente com um tijolo na cabeça. No entanto, por outro lado, as evidências do mundo põem-se contra as evidências da minha lógica, porque o jogo tem, efectivamente, um sucesso enorme. Então, se calhar, é melhor não pecar por arrogância, e admitir que talvez seja eu que estou louco.
Mas a ùnica coisa, que me lembre, que encontro semelhante, são aqueles jogos de computador para crianças, em que o objectivo é pintar a àrvore de verde, sendo para isso necessário seleccionar, com o ponteiro do rato, a cor verde. Julgo haver uma diferença subtil, que é existir nestes jogos para crianças uma correspondência entre as cores que seleccionam e as cores que vão ver pintadas, assim como entre estas e a côr das àrvores verdadeiras. Ou seja, há uma certa aprendizagem elementar sobre as cores, sobre a maneira como estas podem ser usadas para criar uma imagem, e sobre a relação entre as cores e o mundo real, enquanto no "Guitar-Hero" os botões não correspondem a notas, ou acordes, ou nada que se pareça, sendo usados aleatoriamente segundo convenções sem sentido. Uma outra diferença, também subtil, é este outro tipo de jogos que referi ser feito para um público alvo que gosta do Noddy. Não escreverei sobre nenhuma questão associada mais profunda ou filosófica, sobre a natureza da música e das artes, ou sobre o quão patético é haver uma necessidade geral tão grande de fazer de conta que se faz parte do mundo das estrelas do rock, porque poderia tornar-me excessivamente dramático. Como principiei por dizer, este post é, com certeza, completamente inútil. Quem gosta do jogo, sem dúvida que não deixará de jogar por minha causa. É só um daqueles gritos que eu precisava de gritar para algum lado. Se pudesse ter à minha frente o criador do jogo, atado e amordaçado, berrava-lhe aos ouvidos até lhe rebentarem os tímpanos e estourava-lhe os testiculos com uma bomba de carnaval. Como não posso, são vocês que me aturam.
1 comentário:
Eu nunca dediquei tanta atenção ao Guitar Hero, como a que dei em relação a este post que escreveste (e bem) sobre ele. Por isso podes imaginar o quão addicted eu sou para aquele jogo.
Admito que sou um herege com uma guitarra na mão, é como dar a biblia a um muçulmano, mas isso não faz de mim estúpido ao ponto de aderir a esse jogo para aprender a tocar, ou simplesmente pelas metas patéticas que ele estabelece.
Tenho em mim a ideia de que quem sabe tocar (bem) guitarra tem uma enorme destreza e um talento portentoso, mas o Guitar Hero é precisamente desconstruir toda a ideia de grandes figuras do rock, como os Metallica, que penso fazerem parte de uma versão do jogo.
Anyway, é o entertainment na sua face mais inútil e desprezível, mas lá que vende, vende às toneladas.
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