quarta-feira, 14 de outubro de 2009

De 1928 mas ainda a bombar

Escrevo estas linhas a propósito do amável convite que o Ricardo me dirigiu no sentido de fazer alguma contribuição para o blog. Intimidado pela minha própria ignorância relativamente aos tópicos habitualmente falados no blog, procurei desesperadamente um tema sobre o qual pudesse fazer algum contributo. E, então, reparei que já tem havido posts sobre música, coisa que, é sabido, toda a gente gosta e toda a gente se interessa, não sendo, portanto, necessário ser um grande especialista para poder partilhar opiniões sem correr o risco de cair no ridículo. E tive a sorte de descobrir, por acaso, no youtube, um conjunto que me parece maravilhoso de vídeos com algumas músicas muito antigas. Ao escrever sobre música feita nos anos 30, espero ser, pelo menos, original. E fico tanto mais contente por poder chamar a atenção para estes vídeos, quanto o autor da música que podemos ouvir neles, Louis Armstrong, é hoje conhecido pelas massas especialmente, ou somente, pela sua versão de uma canção chamada "What a wonderful world", o que é um pouco como se Picasso fosse conhecido por um desenho miserável feito à pressa na toalha de papel de um restaurante. Nada contra a interpretação da What a wonderful world, cantada magnificamente, como sempre, mas acontece simplesmente que não será, com certeza, devido a ela que Armstrong é um dos maiores génios musicais de sempre e é tido por muitos como o músico mais influente do século. Existe inclusivamente uma espécie de "recriação" idiota que um péssimo saxofonista que se tornou um fenómeno de massas, com números incríveis de vendas de discos, chamado Kenny G, fez dessa popular gravação. Esta gravação do Kenny, tal como as outras que dele ouvi (felizmente poucas), faz-me esperar ardentemente que a senhora sua mãe, ou alguém neste mundo, goste muito dele, caso contrário não vislumbro qualquer motivo para um tal ser humano ainda não ter falecido de forma dolorosa. De volta a Satchmo, o grande Armstrong mostrou boa parte do seu melhor na série de gravações extraordinárias que fez no início de carreira, apesar de estas gravações antigas perderem muito pela péssima qualidade de som e pelos músicos muitas vezes pouco inspirados que o acompanham. Do conjunto à disposição no youtube, proponho abaixo um exemplo que me parece perfeito, a gravação de West End Blues, considerada uma das obras-primas do século XX, com a lendária introdução que Louis faz a solo no trompete. Só não me parece adequado parafrasear o romancista e dizer que deixo estas palavras já não sei porquê ou a propósito de quê porque acredito que há pessoas interessadas e curiosas que, por falta de informação e por estas gravações não serem ouvidas em muitos lugares, nunca entenderam plenamente o fascínio e admiração que Armstrong causa naqueles que conhecem bem a sua obra, e espero que alguma delas venha por acaso a encontrar este post e a ouvir este vídeo, e os outros do mesmo género que existem no youtube, para que possa compreender. Gostava apenas de lembrar, para terminar, que se trata de música feita em 1928... Não esperem, por favor, um tipo de som e de texturas semelhantes às de músicas mais modernas, como é evidente.


1 comentário:

Unknown disse...

É com grande gáudio que agradeço a tua colaboração no Midnight Telegraph, Hermano.
Como já te referi, oportunamente, não tenho, infelizmente, bagagem para apreciar as melodias de Amstrong, mas mesmo qualquer herege musical compreende o assombroso talento deste grande músico.
Arrico-me a dizer que este post é um achado. Isto porque em todos os sites, blogs e aficionados de redes sociais que conheço, nunca ninguém escreveu sobre este tema.
Parabéns Hermano, o teu gosto musical requintado e peculiar é sempre um agradável surpresa.